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País deve ter rotulagem que facilite compra de alimentos saudáveis, diz conselheira

publicado: 08/09/2017 17h50, última modificação: 11/09/2017 15h04
Conselheira Ana Paula participou por 2 anos de um amplo grupo de trabalho da Anvisa, criado por recomendação do Consea, para revisar as normas atuais de rotulagem de alimentos no Brasil. Expectativa é de que proposta vá a consulta pública em setembro. Imagem: Idec

Conselheira Ana Paula participou por 2 anos de um amplo grupo de trabalho da Anvisa, criado por recomendação do Consea, para revisar as normas atuais de rotulagem de alimentos no Brasil. Expectativa é de que proposta vá a consulta pública em setembro. Imagem: Idec

Um símbolo fácil de ler como um sinal de PARE no trânsito, escrito com letras brancas sobre fundo preto, alerta consumidores do Chile sobre quais alimentos nas gôndolas dos supermercados contêm excesso de gorduras, açúcar, sódio e calorias. A linguagem simples e a alta visibilidade fazem com que este modelo de rotulagem frontal seja considerado, hoje, o melhor do mundo, por facilitar a escolha de alimentos saudáveis, afirma Ana Paula Bortoletto, doutora em Nutrição em Saúde Pública e pesquisadora do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).

No Chile, a mudança para a rotulagem frontal está sendo implantada em etapas e cobre três aspectos principais. Embalagens de produtos com alto teor de sal, açúcar ou gorduras não podem conter, brindes, personagens infantis ou desenhos que transmitam a falsa ideia de que aquele alimento é saudável. Também não pode haver publicidade destes produtos na TV; e eles estão proibidos de serem vendidos nas escolas. Assim que os fabricantes reduzem os ingredientes nocivos, podem retomar as três coisas. “É uma regulamentação parecida com essa que gostaríamos de ver no Brasil”, diz Ana Paula.

Com esse objetivo, ela participou, durantes dois anos, de um amplo grupo de trabalho criado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), para revisar as normas atuais de rotulagem de alimentos no Brasil, consideradas demasiadamente complexas para a imediata compreensão do consumidor. O grupo nasceu em 2013, a partir de uma recomendação do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea). Além da pesquisadora do Idec, outros conselheiros também fizeram parte das discussões e a expectativa deles é de que a Anvisa divulgue, agora em setembro, uma consulta pública sobre as propostas reunidas por pesquisadores, professores e especialistas.

Confira, a seguir, uma entrevista com a conselheira Ana Paula Bortoletto.

Quando o país poderá ter uma rotulagem de alimentos capaz de ser entendida até pelas crianças?

O ideal é que o modelo adotado possa ser compreendido por qualquer pessoa. A expectativa é de que a Anvisa publique, ainda neste mês, uma proposta de rotulagem nutricional frontal, para que seja avaliada em consulta pública. Recentemente, após o fim do nosso grupo de trabalho, a agência solicitou aos integrantes que mandassem suas sugestões. A ideia é que a Anvisa possa rever toda a norma da rotulagem nutricional, que vai incluir a rotulagem frontal, a tabela nutricional e a lista de ingredientes.

Esse tipo de regulamentação é considerada mais aceitável pelos grandes fabricantes de alimentos? Por quê?

Sim, porque essa proposta de rotulagem frontal não proíbe a venda de produtos fabricados por quem não se submete a ela. Mas impede que eles tenham publicidade na TV, imagens atraentes, brindes de jogos ou adesivos e que sejam vendidos nas escolas. Portanto, não se trata de demonizar ou proibir alimentos, mas de esclarecer o consumidor para que ele realmente tenha liberdade de escolha.

A mudança deve ser feita em etapas?

No Chile, houve um longo processo de avaliação sobre qual seria a melhor imagem para colocar na rotulagem, a melhor simbologia, em termos de compreensão das informações ao consumidor, para que ele pudesse fazer escolhas mais saudáveis. A discussão começou com uma analogia aos sinais de trânsito: vermelho para perigo; amarelo para alerta; e verde para alimentos saudáveis. A partir daí, foram testando cores e formatos até chegar na atual proposta, que conseguiu alcançar um bom design, de maior contraste com relação às cores e com a melhor visualização possível. Para as pessoas poderem enxergar as informações. E também as mensagens acerca de nutrientes, cujo consumo excessivo é associado a doenças crônicas, à obesidade, ao diabetes, ao câncer. Muitas vezes, as embalagens escondem essas informações. Então, a pessoa não consegue entender, porque é uma informação muito técnica. Ou está em tamanho muito pequeno em relação à embalagem.

No primeiro ano do rótulo frontal, houve forte reação das empresas no Chile. Mas, à medida que os produtos foram ajustados e puderam voltar a ser vendidos nas escolas, a ter publicidade, a situação melhorou. Isso deve ajudar o Brasil?

Não creio. Acho que teremos a mesma resistência aqui também. Mas a verdade é que não há qualquer evidência ou base técnica para alguém ser contra esse modelo. Somente o receio da mudança. No entanto, com o passar do tempo, as pessoas vão compreender.

Entrevistada por Ivana Diniz Machado

Fonte: Ascom/Consea