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Semana da Mulher: empoderamento, direitos, cidadania e equidade
Semana da Mulher
Entrevista com Vânia Lúcia Ferreira Leite, Pastoral da Criança.
A economista Vânia Lúcia Ferreira Leite atua desde 1995 na Pastoral da Criança. Foi assessora de Zilda Arns, fundadora e coordenadora nacional da entidade. Coordenadora adjunta na Comissão Intersetorial de Atenção à Saúde nos Ciclos de Vida (criança, adolescente, jovem e idoso) e membro da Comissão Intersetorial de Saúde Indígena do Conselho Nacional de Saúde, Vânia destaca o protagonismo das mulheres nas ações da pastoral. “Muito do que já foi conquistado é fruto da compreensão das mulheres de suas potencialidades e seus direitos, bem como o momento em que elas colocam esse conhecimento em prática, buscando uma realidade mais justa, fraterna e humana”, diz ela. “Esse empoderamento é essencial, por exemplo, para combater o machismo, o patriarcalismo e o poder dominante do homem, ainda tão presente na sociedade e que independe de classe social, idade e gênero”.
Qual o papel das mulheres no trabalho da Pastoral da Criança?
Vânia Lúcia Ferreira Leite: Dos líderes da Pastoral, 90% são mulheres. Elas têm várias escolhas, obrigações que precisam dar conta, como trabalhar, cuidar da casa, dos filhos e da família. Ainda assim, encontram tempo para se dedicar a outras pessoas, realizando visitas na sua comunidade, trocando experiências e ajudando a levar informações sobre saúde, educação, nutrição e cidadania para as famílias.
Muito do que já foi conquistado se deve ao empoderamento, um termo que parece difícil, mas que, de maneira simplificada, significa a compreensão das mulheres de suas potencialidades e seus direitos, bem como o momento em que elas colocam esse conhecimento em prática, buscando uma realidade de vida mais justa, fraterna e humana.
Que ações a Pastoral realiza no combate à violência contra a mulher?
Vânia Lúcia Ferreira Leite: A Pastoral da Criança forma uma rede de solidariedade humana entre as famílias. A Pastoral realiza Rodas de Conversas com as famílias, um método de discussão que possibilita aprofundar o diálogo com a participação democrática, a partir da riqueza que cada pessoa possui sobre o assunto. Na Roda, cada integrante tem oportunidade de falar ou expressar o que pensa. O diferencial do método é a disposição do grupo em forma de círculo, e o foco em um tema. No final da Roda de Conversa são definidas ações, a partir das ideias de consenso. A partir deste momento, as famílias se sentem protegidas e as mulheres sentem estimuladas a denunciar, falar e discutir.
Qual a influência da mulher na formação de hábitos alimentares mais saudáveis para as crianças?
Vânia Lúcia Ferreira Leite: A qualidade da alimentação da criança é fortemente dependente dos seus costumes e escolhas. Acredito que a alimentação dos pais é decisiva na formação dos hábitos alimentares na infância, pois vem deles o exemplo que a criança tenderá a seguir. Desde ter em casa alimentos saudáveis, como frutas, verduras, arroz, feijão, alimentos regionais, preparados com amor e usando o conhecimento muitas vezes vindo de gerações, quanto ter o hábito de sentar-se à mesa no momento das refeições e realizá-la em conjunto com a criança. É importante ter uma alimentação variada que proporcionará todos os tipos de nutrientes para a criança se desenvolver bem e com saúde e, na maior parte das vezes, quem organiza as compras e o preparo das refeições em casa é a mãe. Devemos nos preocupar com a indústria de alimentos que produz muitos produtos com alta concentração de açúcares, gorduras e calorias, além de aditivos químicos.
Até alguns anos, uma das ações da Pastoral da Criança era reduzir a desnutrição infantil. Atualmente, com um acesso facilitado a alimentos ultraprocessados, o que tem atingido muitas crianças é a obesidade. Como a Pastoral vem trabalhando diante dessa nova realidade?
Vânia Lúcia Ferreira Leite: Um ponto principal a considerar é que os programas da Pastoral da Criança visam uma transformação na família, pois possuem princípios e metodologias participativas e cooperativas, além do baixo custo para implantação e o fortalecimento sócio-educativo da comunidade. Se há 30 anos uma das ações da Pastoral da Criança era reduzir a desnutrição infantil, nos anos 2000, a realidade é oposta. Existe uma forte tendência em associar uma criança gordinha como uma criança saudável, mais forte para resistir a doenças, mas não é assim. Por isso, a Pastoral da Criança vem realizando capacitação contínua de seus líderes para atuar na prevenção da desnutrição e da obesidade infantil. Atualmente, com a ação do Acompanhamento Nutricional, é possível determinar, de maneira mais precisa, o diagnóstico nutricional das crianças, através do cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC) – que relaciona peso, altura e idade. A partir deste diagnóstico, os voluntários podem intensificar as orientações aos pais ou responsáveis quanto à alimentação saudável, estímulo à prática de atividade física e encaminhamento para unidade básica de saúde, quando necessário.
Que referências a Pastoral utiliza nas ações de capacitação e de acompanhamento nutricional?
Vânia Lúcia Ferreira Leite: A Pastoral da Criança se baseia para a elaboração de seus materiais educativos principalmente nos manuais e guias do Ministério da Saúde, assim como nos instrumentos de Sociedades Brasileiras, como de Pediatria, Nutrologia, entre outras. O Guia Alimentar para a População Brasileira, assim como o Guia Alimentar para Crianças Menores de Dois Anos do Ministério da Saúde são grandes fontes das nossas orientações, pois trazem orientações simples e adequadas sobre a alimentação saudável. O conteúdo desses guias está em sintonia com as ações da Pastoral da Criança, em especial com as ações de Acompanhamento Nutricional e Alimentação e Hortas Caseiras, as quais visam promover a saúde e a boa alimentação, utilizando dos costumes locais e culturais, aproveitando integralmente os alimentos, para combater tanto a desnutrição como a obesidade.
Na semana em que se celebra o Dia Internacional da Mulher, qual a mensagem que você gostaria de deixar para as mulheres?
Vânia Lúcia Ferreira Leite: A mulher tem que acreditar nos valores humanos e continuar sendo firme nas suas lutas, decisões e caminhadas. Esse empoderamento é essencial, por exemplo, para combater o machismo, o patriarcalismo e o poder dominante do homem, ainda tão presente na sociedade e que independe de classe social, idade e gênero. É com esse empoderamento que a mulher pode fazer escolhas e conquistar direitos, cidadania e equidade no mundo do trabalho, nas escolas, nas famílias e nas mais diversas relações sociais.
Fonte: Ascom/Consea