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Olhares da 5ª+2: o que dizem os participantes
No último dia do Encontro 5ª+2, o site do Consea ouviu representantes da sociedade civil, mulheres e homens, de diversos segmentos que participaram do evento. Em comum a todos, o sentimento da necessidade de se avançar na implementação das políticas públicas de segurança alimentar e nutricional. Confira alguns depoimentos.
Cícero de Lima – Movimento dos Vazanteiros
"Precisamos tornar os Conseas regionais mais ativos. No meu município, Itacarambi (MG), o Conselho não funciona. Enquanto isso, o rio São Francisco está sendo atacado, provocando desmatamento. Não temos território e sem a terra não temos como produzir nossos alimentos."
Luciana Braga – Pastoral da Criança de Alagoas
"Estamos aqui para partilhar nossa preocupação com o desmonte que está ocorrendo das políticas públicas de segurança alimentar e nutricional. Em Alagoas, houve corte de recursos para a compra de leite para as crianças, por exemplo. É a sociedade civil quem carrega os Conseas, não podemos deixar que tudo volte para a estaca zero."
Marcos Rochinski – Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar do Brasil
"A metodologia deste encontro permitiu a oportunidade de expressão de todos os participantes. O momento é conturbado, com retrocesso das políticas públicas de segurança alimentar e nutricional. Nossa discussão procura resultar em propostas concretas para os próximos governantes, independentemente de partidos."
Renilda Bezerra (Mãe Renilda) – Consea Paraíba
"A fome voltou a bater na porta das pessoas, especialmente das mulheres negras. Várias delas perderam empregos. Houve redução no Bolsa Família. As políticas públicas de segurança alimentar e nutricional precisam se direcionar para os povos de matriz africana."
Osvaldo Aly – Pesquisador
"Participei das discussões sobre segurança hídrica e sobre a influência das mudanças climáticas na questão da segurança alimentar e nutricional. Não é só uma realidade do semi-árido. Precisamos disseminar o impacto do agronegócios no direito humano de todos à água."
Rinaldo Araújo – Consea Rio de Janeiro
"Denunciamos neste encontro a intolerância religiosa e a violência que os povos de matriz africana estão sofrendo em todo o Brasil. Nossas tradições culinárias estão sendo desrespeitadas, quando, por exemplo, se proíbe a comercialização de animais vivos. Grande parte da culinária orixá atende a pessoas com intolerância alimentar."
Wanderley da Rocha – Associação Nacional das Etnias Ciganas
"O encontro foi muito importante para que a voz dos ciganos fosse finalmente ouvida. Encaminhamos ao Governo Federal carta com nossas principais demandas. A aprovação do Estatuto do Cigano é o primeiro caminho na nossa luta para dar mais visibilidade aos povos ciganos."
Maria Isabel – União Brasileira de Mulheres
"As mulheres são as que mais perdem com a perda das conquistas que tivemos nos últimos anos. Como chefes de famílias que muitas somos, estamos sofrendo com a precarização do trabalho, com o retrocesso das políticas inclusivas, como o Bolsa Família."
Eliseu da Silva (Xumxum) – Movimentos dos Quilombolas
"Encontros como esse são importantes para que a gente conheça a realidade de outros povos que enfrentam problemas de demarcação de território, como é o caso dos ciganos e dos indígenas, e qualificar nosso discurso para enfrentar o agronegócios."
Edgar Moura – Consea Nacional
"Além da metodologia participativa dos debates, destaco neste encontro o espírito de resistência dos participantes em relação ao retrocesso das políticas públicas de segurança alimentar e nutricional que estamos passando. Retornaremos para as nossas bases ainda mais energizados para a defesa da agenda de SAN."
Cacique Karkará – Apoime
"O encontro é um espaço de reivindicação dos nossos direitos. Pela demarcação de terras. Por causa do desrespeito à nossa cultura alimentar, nossas crianças estão tendo cáries, os adultos estão morrendo mais cedo. Não queremos ficar fora da sociedade. Queremos ser incluídos, mas que sejam respeitadas as nossas particularidades de povos indígenas."
Amantino Beija – Articulação dos Povos Faxinalenses
"Sem território, não adianta muito discutir sobre produção de alimentos, o debate sobre políticas públicas de segurança alimentar e nutricional fica prejudicado. O encontro possibilita dar voz aos nossos anseios, mas precisamos também ter vez."
Daniel Dias (Kinuko) – Fonsanpotma
"Depois de tanta luta, não podemos permitir retrocesso nas políticas públicas de segurança alimentar. Nós, povos de matriz africana, não podemos nos tornar ainda mais invisíveis. O Consea é o espaço para amadurecer esta discussão. Precisamos manter a chama acesa e a mobilização nos municípios, nos estados e no país."
Dourado Tapeba – Consea Nacional
"É preciso tirar do papel e colocar as propostas que estamos apresentando desde a primeira conferência de SAN. Na 5ª+2 viemos dizer que sem a regularização fundiária das terras dos indígenas não é possível produzir comida de verdade para nosso povo, que está sofrendo de males como obesidade e mortalidade precoce. Tudo isso por causa da mudança da nossa cultura alimentar, com a chegada dos produtos ultraprocessados."
Edição: Francicarlos Diniz
Imagens: Victor Moura/Consea
Fonte: Ascom/Consea