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Discurso da biofortificação de alimentos despolitiza o problema da fome, afirmam conselheiras

publicado: 12/09/2018 18h20, última modificação: 13/09/2018 11h32

“Nem mais forte, nem mais saudável”. Esse é o título do artigo das integrantes do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) Juliana Dias e Vanessa Schottz ‒ em conjunto com a pesquisadora Juliana Casemiro ‒ publicado no relatório “Atlas do Agronegócio: fatos e números sobre as corporações que controlam o que comemos - 2018”.

No texto (páginas 26 e 27), as conselheiras do Consea explicam como a manipulação genética de plantas, com o objetivo de aumentar a concentração de um ou mais micronutrientes, vem provocando desequilíbrio nos alimentos.

“Não é de hoje que o discurso do combate à fome é utilizado para alavancar o desenvolvimento tecnológico com fins prioritariamente comerciais. A aplicação de mais tecnologia na produção agrícola é difundida como a única solução capaz de eliminar a escassez de alimentos e a carência de nutrientes”, explicam as autoras do estudo.

Nesse sentido, explicam as pesquisadoras, desde 2003 a biofortificação é uma dessas respostas supostamente promissoras para o combate à fome e à subnutrição. Trata-se da manipulação genética de plantas para aumentar a concentração de um ou mais micronutrientes específicos. “Com essa alteração, é possível produzir variedades de arroz e feijão com maiores teores de ferro, zinco e vitamina A, por exemplo”.

As pesquisadoras avaliam que, ao contrário do que o nome sugere, o alimento biofortificado não é mais forte, nem mais saudável, pois elimina as características inerentes do alimento, provocando um desequilíbrio. “O que ocorre é o empobrecimento dos demais micronutrientes essenciais e fibras em detrimento de outro tipo”, explicam Juliana Dias, Juliana Casemiro e Vanessa Schottz no artigo.

Para elas, o discurso da biofortificação despolitiza o problema da fome e empobrece o debate sobre a biodiversidade e sua relação com a nutrição e a saúde. “Mostra-se necessário que o debate sobre biofortificação seja efetuado de forma transparente e profunda com a sociedade brasileira”, concluem as pesquisadoras.

Atlas do Agronegócios

O Atlas do Agronegócio foi apresentado em sua primeira edição em 2017 na Alemanha por um conjunto de organizações que defendem a justiça socioambiental global.

No Brasil, duas dessas organizações, a Fundação Heinrich Böll e a Fundação Rosa Luxemburgo, juntaram forças para traduzir, atualizar, adaptar e contextualizar informações reunidas no original, acrescentando vários artigos com relevância especial para a sociedade brasileira.

A edição brasileira do Atlas do Agronegócio 2018 destaca que o campo tem sido marcado pela concentração de terras nas mãos de cada vez menos produtores, pela expansão de plantações de monocultivos, especialmente soja, milho e cana-de-açúcar, e pelo consequente aumento do uso de agrotóxicos, perda de qualidade do solo e redução da biodiversidade.

A publicação detalha também a tendência de concentração do poder e das terras, em detrimento das condições de vida e de trabalho da agricultura familiar e camponesa, de povos indígenas e de comunidades tradicionais.

“Cortes sociais agravam conflitos socioambientais em um contexto de criminalização, perseguições e violação de direitos de quem luta pela terra”, ressalta a versão 2018 do Atlas do Agronegócio.

Clique aqui para ler o Atlas do Agronegócio.

Fonte: Ascom/Consea