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Conselheira vai coordenar projeto da FAO
Marcelo Torres
A conselheira e pesquisadora Emma Siliprandi foi escolhida recentemente pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) para coordenar um projeto que abrange dez países da América Latina. O trabalho será desenvolvido a partir da sede regional da FAO, em Santiago, no Chile.
Para assumir o novo desafio, e tendo em vista a dificuldade de conciliação das duas funções, ela enviou carta ao Consea no último dia 30 de abril pedindo desligamento do Conselho. “Apesar do meu interesse em continuar colaborando, não poderei mais participar das reuniões com regularidade”, informou na carta.
O objetivo da FAO é apoiar estratégias nacionais de segurança alimentar e nutricional, além de estimular ações de superação da pobreza. O projeto terá duração de três anos e conta com o apoio do governo brasileiro, por meio do Ministério das Relações Exteriores (MRE), Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e Agência Brasileira de Cooperação (ABC).
Emma Siliprandi é engenheira agrônoma graduada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, possui mestrado em Sociologia Rural, pela Universidade Federal da Paraíba, e doutorado em Desenvolvimento Sustentável, pela Universidade de Brasília.
Na entrevista abaixo, ela fala sobre esse novo compromisso, sua experiência como conselheira e os fatos que marcaram sua passagem pelo Conselho.
Como foi sua experiência como conselheira do Consea?
Considero uma experiência muito relevante do ponto de vista profissional e também como militante da causa da segurança alimentar e nutricional, porque nos permite ter acesso ao que está acontecendo de mais importante nesse campo - no país e no mundo. Seja nas reuniões das comissões e grupos de trabalho, seja nas plenárias, temos contato com avaliações de programas e políticas, propostas de mudanças por parte do governo, críticas de diferentes setores da sociedade civil, enfim, um panorama muito rico do que está acontecendo, com oportunidades de interferir nesse debate. As conselheiras e os conselheiros não são meros espectadores ou críticos de fora: são pessoas que estão envolvidas até a raiz dos cabelos nos debates e são permanentemente chamados a trazer sugestões a partir dos setores que representam, para o melhoramento das políticas. Além de ser um espaço de articulação entre a própria sociedade civil, que aproveita essa oportunidade para estabelecer parcerias, trocar experiências, conhecer mais outros setores com quem também partilha interesses comuns. É bonito ver setores urbanos conhecendo mais os problemas dos rurais e vice-versa, representantes de diferentes comunidades religiosas, populações tradicionais, movimentos de mulheres, setores que se preocupam com a educação de crianças e jovens, outros que trabalham com direitos humanos, todos discutindo a mesma pauta política a partir de diferentes pontos de vista. Isso é democracia.
Poderia citar alguns aspectos ou fatos marcantes vistos ou vividos no Consea?
Tive a oportunidade de coordenar o Grupo de Trabalho de Gênero e Segurança Alimentar e Nutriconal, e vivemos momentos riquíssimos de discussão sobre como políticas impactam diferentemente mulheres e homens e como é preciso dar uma atenção especial a esta questão. Cito em especial as avaliações que fizemos sobre o Programa Brasil sem Miséria, o Plano Nacional de Controle e Prevenção da Obesidade, e sobre a necessidade de incorporar uma visão de gênero nos indicadores de segurança alimentar e nutriconal que o Consea utiliza hoje. Outros momentos marcantes foram os seminários internacionais que tive a oportunidade de participar. Participei de missões no Marrocos, na Tunísia e também na FAO, em Roma, e em todos me senti muito bem acolhida, por ser representante do Conselho.
A experiência brasileira em segurança alimentar e nutricional e o papel/atuação do Consea podem servir de parâmetros para outros países?
O Brasil tem uma experiência ímpar nessa área, em particular no que diz respeito ao planejamento coordenado e monitoramento de ações intersetoriais, que estão materializadas no Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. A implantação do SISAN [Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional] também é uma novidade nesse sentido.Toda essa experiência é vista com muita atenção pelos outros países, porém nem tudo pode ser reproduzido, em função de especificidades históricas, políticas e culturais de cada um. Creio que podemos oferecer, acima de tudo, nossa experiência em dialogar, em pactuar objetivos comuns entre entre governo e sociedade civil, sem que nenhuma das partes perca a sua autonomia.
Como vai ser o seu trabalho na FAO?
Vou coordenar o Projeto de Cooperação Técnica “Apoyo a las Estrategias Nacionales y Subregionales de Seguridad Alimentaria y Nutricional (SAN), y de Superación de la Pobreza en países de América Latina y el Caribe - GCP/RLA/193/BRA”, que visa o fortalecimento da institucionalidade dos temas de segurança alimentar em dez países na América Latina. Será um processo de articulação entre setores governamentais e sociedade civil em torno da agenda de segurança alimentar e nutricional nesses países. Vamos enfocar a existência de normativos legais, estruturas públicas, assim como movimentos sociais ligados ao tema, estimulando a sua articulação em torno de prioridades pactuadas em conjunto. Nesse sentido, vou levar muito da experiência que vivemos aqui no Consea. Muitos países da América Latina têm avançado na sua agenda de segurança alimentar, e o promover o intercâmbio entre eles - incluindo o Brasil - pode ajudar muito a se avançar ainda mais.
Fonte: Ascom/Consea