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Indígena fala sobre irmão assassinado

publicado: 09/08/2013 11h15, última modificação: 18/09/2017 11h17
Ascom/Consea

Beatriz Evaristo

A convite da presidenta do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) , Maria Emília Pacheco,  Otoniel Terena esteve em Brasília para participar da XI Plenária do órgão. Otoniel é irmão de Oziel Gabriel, índio Terena, assassinado no dia 30 de maio durante a reintegração de posse de uma fazenda em Sidrolândia (MS). Na região, cinco mil indígenas vivem em uma área de 2.090 hectares. De acordo com Otoniel, os estudos já comprovaram que a área deve ser ampliada por mais 15 mil hectares.

Como está hoje a questão da terra e dos conflitos na região?
Nós estamos numa pequena limitação de área que em vista das grandes dificuldades, nós ainda produzimos. Não dá pra fazer uma produção muito grande. Estamos numa expectativa de receber nossas terras para ampliar mais a nossa produção. Nós estamos confinados nesse pedaço de terra. Agora, a questão do conflito fica meio complicado, depois do assassinato. Antes disso, nós produzíamos e vendíamos pra fora. Aí depois disso ficamos com dificuldade porque quem comprava está com medo de descer lá. Agora que as coisas vão se normalizar porque a Força Nacional chegou e está lá. Trouxe a paz, entre aspas, na nossa região.

Está controlando a violência?
Está controlando os conflitos para que não haja mais violência. A pergunta é: por que precisou a gente perder alguém pra sinalizar positivo pelas nossas terras? Nós temos na nossa percepção que a terra é nossa sobrevivência. A terra  é a nossa vida mesmo.

Hoje, o que vocês produzem lá na região?
A gente produz mandioca, milho, feijão, arroz também. Isso faz com que a gente sobreviva dela. Plantamos banana também, abóbora, batata e uma infinidade de produtos que nós cultivamos.

A não-ampliação da área e os conflitos afetam de que maneira a vida de vocês?
A gente produz pra nossa sobrevivência mas também produzimos para vender e escoar a produção. Esses conflitos complicam. Os compradores ficam com medo de comprar porque tem uma repercussão negativa muito grande.  Complica para conseguir vender, conseguir dinheiro para comprar outras coisas.


E como foi o conflito que levou à morte do seu irmão?
Nós estávamos dentro da nossa propriedade e queriam tirar a gente a todo custo sem uma negociação. Nós éramos muita gente. A gente ficou surpreso. Por que foi o Oziel? Ele era uma das nossas lideranças, bem influentes de lá. Ele fazia parte dos guerreiros Terena.


A morte do Oziel fortaleceu a comunidade?
Sempre que eu lembro dele...tem um abalo psicológico...fica na nossa cabeça. O Oziel foi o escolhido, o que estava mais preparado para morrer pela nossa causa e pra nos fortalecer mais ainda. Muita gente pensou: ‘Agora a comunidade vai dispersar e vai parar com a luta’. Aí que deu mais força, mais energia pra gente lutar pelos nossos direitos e conquistar em definitivo as nossas terras. Fortaleceu mais o grupo.

Quando você fala na luta, como você explicaria para quem não entende que luta é essa?
É uma luta muito árdua, muito difícil em relação à conquista do nosso território tradicional, uma vez que o próprio Estado brasileiro doou a nossa terra aos grandes produtores rurais. Deram as nossas terras, sendo que nós já estávamos nela. Ou seja, nos expulsaram da nossa própria terra. Desde então, já começa uma grande batalha para conquista do nosso território que é tradicional, que é comprovado por estudo antropológico. A luta que eu falo tem travado muitos embates e desafios com o governo pra dizer: ‘isso aqui é nosso’. Não é uma luta física que muita gente entende que nós estamos brigando fisicamente, mas é uma luta de movimento, de estratégias para que o governo reconheça mesmo que tem débito com a gente, não só da minha região, mas da nação indígena do Brasil.

Fonte: Ascom/Consea