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Indígenas falam sobre alimentação, territórios e outros temas
“Ou nós protegemos de verdade ou nós iremos transformar tudo isso em um futuro deserto. Porque quando acabar a exploração, os capitalistas pegam o capital e vão embora e quem é da terra e precisa sobreviver da terra ficará apenas na miséria”, foi assim que o conselheiro José Mesquita resumiu a importância da demarcação e preservação das terras indígenas no Brasil, ao participar da XI Plenária do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), cuja temática foi voltada para questões indígenas e quilombolas.
Há 40 anos, a família do conselheiro José Mesquita deixou a comunidade em que vivia no Ceará, por causa da pobreza, para viver no Rio de Janeiro. Indígena do povo Tabajara, José Mesquita acredita que o debate deixou claro que a legislação precisa ser mudada para preservar o direito dos índios que vivem na Amazônia: “Os índios estão provando que tem plantação de cana de açúcar na Amazônia. Se quando a lei foi criada, eles já existiam, é preciso rever a lei“.
Para o conselheiro Dourado Tapeba, da Articulação dos Povos Índigenas no Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme), acredita que é muito importante poder participar do Consea e discutir a segurança alimentar dos povos indígenas. “Na minha comunidade, da Lagoa dos Tapebas, ainda tem um pequeno espaço para plantio coletivo, várias famílias plantam. Na minha comunidade, são 384 famílias. Segunda maior comunidade entre as 17 comunidades dos Tapebas. E essa comunidade vive da colheita de frutas, caju, manga, pra vender na feira, no mercado. Ainda temos algumas lagoas para pescar só para sustento. A caça não existe mais. Pra caçar tem que sair da terra indígena”, conta Dourado.
A conselheira Letícia Yanawá, coordenadora da Organização de Mulheres Indígenas do Acre, destaca a importância da terra para os povos indígenas: “Sem a terra a gente não tem alimentação dentro da nossa comunidade. A terra é tudo. A terra é nossa vida. A floresta em pé é tudo que os povos indígenas querem. Nós lutamos por ela”.
O conselheiro Mário Karaí Moreira, da Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul, destaca a importância de uma plenária voltada para as questões indígenas. “Ficaram mais claros os grandes gargalos da questão indígena. Nos assuntos fundiários, principalmente, e ficou mais claro também que o impacto econômico não é por causa dos indígenas, mas é uma questão política que tem que ser resolvida em conjunto com as lideranças indígenas e o governo”. Mário Karaí defende que a alimentação nas escolas indígenas tenha os traços culturais respeitados. “A gente vem reclamando bastante porque a compra que o município faz para as escolas indígenas vem no padrão de outras escolas não-indígenas. Mas, pouco a pouco, a gente está conversando com as Secretarias de Educação para se respeitar as compras de alimentos para escolas indígenas”, explica.
Na terça e quarta-feira (7 e 8), o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) realizou a reunião plenária sobre questões indígenas relacionadas à segurança alimentar e nutricional, no Auditório do Anexo I do Palácio do Planalto. Além dos assuntos relacionados aos povos indígenas, também foram tratadas as questões fundiárias e de segurança alimentar que afetam a população quilombola no Brasil.
A plenária contou com a participação da presidenta do Consea, Maria Emília Pacheco, e da ministra Tereza Campello, do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), que também é secretária do Consea e presidente da Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional (Caisan). O encontro reuniu conselheiros, convidados e observadores. Foram apresentados painéis sobre os direitos territoriais, as ações do Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, a situação dos Kaiowás Guaranis e o Projeto Nova Cartografia Social na Amazônia, entre outros.
Fonte: Ascom/Consea