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"Não queremos medidas, mas políticas que mudem a realidade do campo", diz Fetraf

por Consea publicado: 21/08/2012 00h00, última modificação: 18/09/2017 14h05

"Não queremos medidas de ano em ano, mas políticas que, de fato, mudem a realidade do campo”, disse Elisângela Santos, da Federação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf), no primeiro dia do Encontro Unitário dos Trabalhadores e Trabalhadoras e Povos do Campo, das Águas e da Floresta, que acontece de segunda a quarta-feira no Parque da Cidade, em Brasília.

“Se tivermos um mundo rural com gente vivendo com dignidade, vamos reduzir todos esses problemas sociais que hoje existem nas grandes metrópoles do país", afirmou ela, que é também conselheira do Consea (Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional).
Para Elisângela, “não dá para ter uma agricultura familiar - que produz a maior parte dos alimentos [no Brasil] - sem pesquisa, sem tecnologia, sem assistência técnica e sem o acesso a terra”.

O objetivo do encontro é definir estratégias comuns em favor de politicas públicas para populações vulneráveis, como trabalhadores rurais, assentados, quilombolas, indígenas e povos e comunidades tradicionais.

Para o representante da Via campesina, João Pedro Stédile, o meio rural brasileiro vem sendo “sequestrado” pelas grandes empresas multinacionais do agronegócio. “A sociedade brasileira vem sendo sequestrada pelo modelo de produção agrícola chamado agronegócio”, protestou ele em entrevista coletiva na abertura do encontro, nesta segunda-feira.

Segundo ele, “capitalistas do mundo inteiro estão vindo para o Brasil comprar terra, usinas de combustível, hidrelétricas, agredindo o meio ambiente, forçando a mudança da legislação indígena e levando a uma maior concentração da propriedade da terra e da renda”.

Otoniel Guarani, da etnia Guarani-Kaiowá, de Mato Grosso do Sul – um dos porta-vozes dos indígenas no evento – citou os mais recentes episódios de violência contra indígenas no país. “Os fazendeiros estão se armando contra os indígenas no Mato Grosso do Sul e afirmando isso publicamente. Cadê os nossos direitos? Queremos demarcação das nossas terras, segurança e punição daqueles que não nos respeitam”, afirmou.

Para Denildo Rodrigues, da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), a pressão sobre indígenas e quilombolas tem uma razão clara. “A mineração e a abertura de fronteiras agrícolas são os ovos de ouro do agronegócio e do capital especulativo. E terras indígenas e quilombolas, uma vez demarcadas, não voltam mais para o mercado. Há vários setores que não querem isso”, observou.

As lideranças criticaram as iniciativas como a Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) 3.239, que prejudica a demarcação de terras quilombolas, e a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) nº 215, que pretende mudar do governo para o Congresso Nacional a regularização de terras indígenas.

O Encontro Unitário dos Trabalhadores e Trabalhadoras, Povos do Campo, das Águas e da Floresta celebra cinco décadas do I Congresso Camponês, ocorrido no ano de 1961. Diversos integrantes do Consea participam de atividades do evento, entre eles a presidenta Maria Emília Pacheco.

Fonte: Ascom/Consea