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Cúpula do Mercosul começa com avaliação sobre avanços democráticos
Luiz Carlos
Na noite dessa terça-feira (14), um debate com intelectuais de Brasil, Argentina e Uruguai deu início, em grande estilo, à 10ª Cúpula Social do Mercosul, que acontece em Fox do Iguaçu, no Paraná. A abertura aconteceu no Cine-teatro Barrageiro, no Parque Tecnológico de Itaipu, responsável por abrigar o evento.
Em uma breve participação, representantes dos movimentos sociais de todos os países da América do Sul falaram a um auditório completamente tomado e composto por várias línguas e bandeiras. Mediador da mesa de abertura, o reitor da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) - primeira bilingue do país - Hélgio Trindade, apontou a necessidade do conhecimento atuar como uma forma de integração, palavra, aliás, muito lembrada durante a noite.
“Muitas vezes a universidade se fecha no mundo acadêmico e essa será a primeira na América Latina totalmente voltada a contribuir, por meio do conhecimento compartilhado e da cooperação solidária, com o combate à exclusão”, afirmou.
A primeira convidar a utilizar o púlpito foi a filósofa e professora da Universidade de São Paulo (USP), Marilena Chauí, a quem coube falar sobre direitos e democracia. “É a luta dos movimentos sociais que nega o principio neoliberal de que a política seja uma questão técnica. A política é ação coletiva e os movimentos sociais transformam carências particulares em interesses comuns e, por meio da luta pela igualdade, em direitos universais”.
Em suas observações, Aldo Ferrer, da Universidade de Buenos Aires, na Argentina, e Gerardo Caetano, da Universidade da República, no Paraguai, ressaltaram a urgência de um projeto de integração regional no Mercosul para que os países cresçam em conjunto por meio do comércio inter-regional, ampliem a soberania, produzam um modelo próprio de organização econômica e fortaleçam a presença no mundo global.
Contudo, ponderou, Caetano, é preciso avaliar o modelo de crescimento adotado. “Desde 2003, a América Latina cresce exponencialmente, mas precisamos ver fazemos isso apenas em exportação de commodities. Se for assim, com a primarização das economias, não teremos desenvolvimento”, diz o historiador, para quem são necessárias políticas públicas para incorporar valores científicos e tecnológicos aos produtos.
Além disso, não se deve perder de vista a defesa da igualdade. “Também não há desenvolvimento sem democracia e não há democracia sem igualdade. Vivemos o escândalo de ser o continente mais desigual do planeta e não podemos nos abster de pensar no combate a essa discrepância para promovermos um crescimento sustentável”.
Mesmo com avanços, Emir Sader acredita que há muito a fazer para aprofundar as mudanças sociais. A começar pela taxação do capital especulativo, que não gera emprego, algo que ele classifica como quebrar o monopólio do dinheiro, mudar o modelo agrário para quebrar o monopólio da terra na mão dos latifundiários e, por fim, acabar com o monopólio da palavra. “Há um bloco dos meios de comunicação dirigidos por poucas famílias que se acham donas da informação. Isso deve estar na lista de prioridades dos movimentos sociais para construção democrática e pluralista da opinião pública”, indica.
Em sua proposta para acabar com a desigualdade, ele é ainda mais radical. “Devemos fazer uma reforma ou refundação dos Estados, que foram feitos por minorias e para as minorias. O que está aí não tem condições de fazer um governo para todos”.
Em paralelo à Cúpula Social, ocorre também em Foz do Iguaçu a 40ª Cúpula de Presidentes do Mercosul e Estados Associados. Uma atividade conjunta de ambas está prevista para esta quinta-feira (16). A cerimônia marcará a despedida do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e já contará com a presidenta eleita, Dilma Rousseff.
Fonte: Central Única dos Trabalhadores (Cut Brasil)