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“Temos que cobrar dos governantes, que estão acabando com os indígenas do nosso território”

publicado: 20/02/2018 15h21, última modificação: 20/02/2018 16h46
Em entrevista ao Consea, o cacique Valdomiro Aquino afirmou que há muito o que ser debatido no encontro 5ª+2. Imagem: UFGD

Em entrevista ao Consea, o cacique Valdomiro Aquino afirmou que há muito o que ser debatido no encontro 5ª+2. Imagem: UFGD

De 6 a 8 de março, será realizado em Brasília o Encontro Nacional 5ª+2. O evento fará um balanço das propostas apresentadas na 5a Conferência Nacional Segurança Alimentar e Nutricional, realizada na capital federal em novembro de 2015.

O site do Consea está realizando uma série de entrevistas com representantes dos segmentos que participarão do encontro.

Liderança da aldeia Panambizinho, em Dourados (MS), o cacique Valdomiro Aquino representará na 5ª+2 a organização indígena Aty Guasu, que reúne integrantes dos povos Guarani e Kaiowá.

Confira a seguir a entrevista que ele concedeu ao site do Consea.

Como é a sua atuação na Aty Guasu?

Sou liderança na aldeia Panambizinho e faço parte da escolarização de dentro do território também. Trabalho ainda como pequeno agricultor.

Qual a importância da terra para a segurança alimentar dos povos Guarani e Kaiowá?

Sem agricultura a gente não vive dentro do nosso território. Para nós é muito importante a terra, a água e a plantação. A terra é a nossa mãe. Isso é a nossa vida. Nós vivemos das nossas raízes, daquilo que os nossos antepassados nos deixaram. Para nós, a comida tradicional é muito importante, porque a comida industrializada vem de outros estados, e pra nós isso não vale nada. Não falta comida, nem plantação. A gente planta de tudo, banana, mandioca, abacaxi.

A demarcação das terras, então, é fundamental?

O Judiciário parece que não quer reconhecer. O erro do homem branco é não reconhecer o território que pertence aos indígenas. O indígena tem o seu pai e sua mãe enterrados ali naquela área. Para nós isso é muito difícil, mas a gente continua lutando.

Que outras dificuldades os Guarani e Kaiowá enfrentam em seu território?

É difícil a própria sobrevivência. Acontecem muitas ações judiciais contra a demarcação das nossas terras. A escola também é outra questão. As nossas famílias vão longe para estudar. Minha filha, por exemplo, quer estudar e não consegue por causa da distância.

O que poderia ser feito para o enfrentamento desses problemas?

Para resolver nosso problema tem que demarcar terra. Se você tem terra, você tem tudo, desde plantação até escola. Mas, sem ela, você é pobre. Antigamente as coisas eram mais fáceis porque a gente era considerado um povo original da terra, da nossa nação. O branco vem dificultando isso por achar que é dono do Brasil. Mas ele vem da Espanha, de Portugal, ele invadiu o Brasil. Mas não vamos desistir não. Nós somos o povo original do território brasileiro.

Qual a sua expectativa em relação ao Encontro 5ª+2?

Queremos levar ideias para os nossos parentes. Vamos ter muitos parentes por lá. A gente precisa se organizar. Temos que cobrar do Estado, dos governantes, que estão acabando com os povos indígenas dentro do nosso território. Há muita coisa para ser discutida, e vamos fazer isso no encontro.

Entrevista: Francicarlos Diniz, com Nathan Victor (estagiário)

Fonte: Ascom/Consea