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“Queremos ter acesso a políticas públicas de alimentação saudável”

publicado: 07/03/2018 15h14, última modificação: 07/03/2018 15h14
Em entrevista ao Consea, Wanderley fala de temas como educação, direitos e políticas públicas. Imagem: Ascom/Consea

Em entrevista ao Consea, Wanderley fala de temas como educação, direitos e políticas públicas. Imagem: Ascom/Consea

“Queremos ter acesso às mesmas políticas públicas que os demais povos tradicionais têm direito. É preciso resgatar a dignidade da nação cigana”.

A afirmação é de Wanderley da Rocha, 52 anos, presidente da Associação Nacional das Etnias Ciganas do Brasil (Anec). Ele mora na comunidade Serra Verde, que abriga 17 famílias ciganas, nas imediações da cidade de Sobradinho (DF). “Somos os primeiros ciganos do Brasil a conquistar nossa própria terra, por meio de concessão pública”, ressalta.

Os povos ciganos têm-se mobilizado em associações com o intuito de afirmar uma identidade cigana plural e desvinculada de preconceitos históricos, reivindicando o status de minoria social e de povo tradicional.

Nesta semana, Wanderley está participando do Encontro Nacional 5ª+2, em Brasília, onde conversou com o site do Consea. “Os ciganos historicamente sempre foram vítimas de preconceito e discriminação racial. Nossos filhos não precisam passar pelo mesmo sofrimento que nós já passamos”, destaca ele na entrevista a seguir.

Território

Somos os primeiros ciganos do Brasil a ter concessão de terra. Nos quatro hectares que temos, plantamos feijão, mandioca e abóbora. Somos 17 famílias vivendo no lugar, num total de 72 pessoas.

Capacitação

Precisamos de cursos de capacitação para que a gente possa desenvolver atividades como artesanato e corte e costura, para vendermos confecções. Existe uma história de que cigano não trabalha, mas isso não é verdade.  

Educação

Nesta semana passamos a contar com uma escola pública típica cigana, para estudantes do programa Educação para Jovens e Adultos (EJA). Queremos contribuir na elaboração de um material didático que respeite e valorize nossa cultura e nossas tradições. A ideia é expandir essa experiência para outros estados.       

Estatuto

Está em tramitação no Senado o Projeto de Lei do Senado n° 248, de 2015, que cria o Estatuto do Cigano. O projeto busca nos assegurar direitos básicos, como o acesso à educação e a inviolabilidade do lar, já que nossas tendas não são reconhecidas como um lar e, muitas vezes, são invadidas durante batidas policiais.

Direitos

Não queremos dinheiro, queremos apenas ter nossos direitos respeitados, tal como acontece com os indígenas, os quilombolas e outros povos tradicionais. São demandas diferentes, mas a luta é por um só objetivo: igualdade racial. 

Preconceito

Os ciganos historicamente sempre foram vítimas de preconceito e discriminação racial. Nossos filhos não precisam passar pelo mesmo sofrimento pelo qual nós já passamos. 

Políticas públicas

Em 2013, foi aprovado um guia de políticas dos povos ciganos, numa ação que envolveu secretarias das mais variadas instâncias. Mas pouca coisa evoluiu na prática. Queremos ter acesso a políticas públicas de alimentação saudável. Somos invisíveis como povos tradicionais. Isso é uma violação de direitos humanos, dos nossos valores e da nossa cultura.

Entrevista: Francicarlos Diniz

Fonte: Ascom/Consea