Você está aqui: Página Inicial > Comunicação > Entrevistas > 2018 > “5ª+2 é oportunidade de troca de experiências entre os povos e comunidades tradicionais”

Notícias

“5ª+2 é oportunidade de troca de experiências entre os povos e comunidades tradicionais”

publicado: 08/02/2018 16h36, última modificação: 16/02/2018 14h34
Sebastião Amantino Beija, coordenador da Articulação Puxirão dos Povos Faxinalenses. Imagem: rede social

Sebastião Amantino Beija, coordenador da Articulação Puxirão dos Povos Faxinalenses. Imagem: rede social

De 6 a 8 de março, será realizado em Brasília o Encontro Nacional 5ª+2. O evento visa fazer um balanço das propostas apresentadas na 5ª Conferência Nacional Segurança Alimentar e Nutricional, realizada na capital federal em novembro de 2015.

Entre os segmentos que participarão das discussões estão os povos e comunidades tradicionais.

Coordenador da Articulação Puxirão dos Povos Faxinalenses, Amantino Beija representará na 5ª+2 as comunidades rurais faxinais que atuam na região metropolitana de Curitiba (PR).

Ele vive no faxinal Meleiro, na cidade de Mandirituba (PR), onde participa da luta pela integridade física e sociocultural das comunidades faxinalenses e pela reivindicação dos territórios tradicionais nos quais estão inseridas.

Confira a seguir a entrevista que Amantino concedeu ao site do Consea.

O que caracteriza a atividade dos faxinalenses?

A atividade é baseada na criação de animais dentro da comunidade, no faxinal. Dentro do perímetro do faxinal, os animais são criados todos soltos. O uso da terra é coletivo para produção animal. Com ou sem documentos, as famílias possuem suas propriedades.

Quantos faxinais existem no Paraná?

Foram mapeadas mais de 227 faxinais. Mas, como a gente não tinha conhecimento das leis de amparo, hoje não temos ideia. Há uma região aqui, por exemplo, em que as pessoas deixaram seu modo de vida porque não tinham apoio do poder público ou políticas públicas específicas.

Quantas pessoas/famílias atuam nos faxinais?

Temos 60 a 80 famílias por faxinal. Na Articulação Puxirão, somos 30 comunidades.

Quais as principais dificuldades enfrentadas pelos faxinalenses na questão da segurança alimentar e nutricional?

A maior dificuldade é em relação à produção e comercialização de produtos, que inclusive são ricos em vitaminas. Por serem produzidos de maneira tradicional, a gente esbarra na lei, na questão da vigilância sanitária. Muitas coisas que produzimos artesanalmente não têm livre comércio e a vigilância sanitária coloca muita dificuldade, principalmente quanto aos alimentos derivados de animais.

O que a vigilância sanitária alega?

Eles não nos apresentam uma justificativa concreta. Uma das alegações é que os animais criados soltos são contaminados. Mas existem as práticas e os determinantes de defesa que a própria natureza oferece.

Quais outras dificuldades são enfrentadas pelas comunidades faxinalenses em relação à segurança alimentar e nutricional?

Um dos problemas é a falta de políticas públicas. Eu sempre falo uma coisa: uma batata doce que a gente produz já conta como geração de renda. Não adianta o poder público instalar uma grande indústria no faxinal. Os faxinalenses poderiam passar a ganhar 1 mil ou 1.500 reais por mês, mas, desse salário, mil reais ele terá que deixar no mercado, já que tudo vai ter de ser comprado no mercado. Então é um problema de falta de políticas públicas, de incentivo mesmo.

Que políticas públicas poderiam ser implantadas?

Faltam políticas de incentivo e apoio à produção e à comercialização. O poder público deveria apoiar as hortas comunitárias, que, em outros lugares, sabemos que recebem incentivo. Uma questão importante é a dos jovens. Se não tivermos um incentivo de renda na lavoura, os jovens terão que estudar para sair daqui para terem empregos e salários melhores. Então se não tiver esse apoio, os jovens vão sair da comunidade.

Qual a sua expectativa em relação ao Encontro 5ª+2?

No encontro, estaremos em constante contato com outras organizações para fazermos uma troca de experiências. Temos recebido visitas de outros segmentos que vêm conhecer nossa dinâmica de vida, nosso trabalho. Então acredito que o evento servirá para debatermos e trocar experiências com os demais povos e comunidades tradicionais. O que deu certo em outra comunidade pode servir de aprendizado para nós. Gostaria de enfatizar o bom acolhimento que temos no Consea, não só nós faxinalenses mas também os indígenas e demais povos. Tanto para a sociedade civil como para os representantes do governo, isso [a participação no conselho] é um passo muito importante.

Entrevista: Francicarlos Diniz, com Nathan Victor (estagiário)

Fonte: Ascom/Consea