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Especialista detalha importância de apoio a moradores em situação de rua
“Muitas vezes a unidade [Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua – Centro Pop] é acusada por pessoas que não compreendem o serviço de que ajudamos a manter pessoas na rua por disponibilizar banho e comida. Mas a verdade é que sem isso a pessoa não consegue se organizar minimamente para sair da rua,” defende Luan Grisolia, coordenador da unidade assistencial localizada na região central de Brasília.
Luan é educador social especializado em saúde mental, álcool e outras drogas. Ele ressalta que o Centro Pop é um meio de apoio à população em situação de rua. “Não se trata apenas de um lugar para comer, mas de um espaço socioeducativo, que trabalha o mais aberto possível para que as pessoas se sintam acolhidas”, afirma.
Inaugurado em 2012, o Centro Pop oferece assistência a centenas de pessoas em vulnerabilidade social. No local são servidas refeições, há espaço para banho, lavagem e escolha de roupas, além de contar com serviço médico. Os usuários também recebem assistência para regularização e retirada de documentos pessoais. “Possuímos profissionais de diversas áreas para realizar o atendimento, como psicólogos e assistentes sociais. Recebemos, em média, 220 pessoas por dia”, explica o coordenador do Centro Pop Brasília.
Confira a entrevista
Quais são as dificuldades encontradas para realização do atendimento à população em situação de rua?
É um público que está aumentando nos últimos dois anos. E a gente precisa sempre estar reforçando a equipe para conseguir dar conta da demanda. Uma das principais dificuldades que temos uma equipe bem reduzida. Temos a questão da estrutura, que sempre estamos tentando melhorar.
Sobre o número de pessoas que frequentam o Centro Pop, como era antes e como está agora?
Quando cheguei aqui em 2015, a gente atendia 50 pessoas por dia. E hoje nós estamos atendendo uma média de 220 pessoas por dia. Isso se dá pelo aumento do número de pessoas em situação de rua, mas também por uma mudança na unidade, que começou a realizar mais o acesso dessas pessoas a políticas de assistência social e aos benefícios. As pessoas começaram a procurar mais para conseguir os benefícios e entrar no acompanhamento. A unidade mudou um pouco as características e começou a ofertar também o almoço que antes não ofertava, aumentando muito o número de pessoas aqui.
Na entrada, vimos que tem uma horta...
Nos últimos dois anos, a gente sempre fez oficinas na horta, como oficina de agroecologia. Agora, a gente está sem oficina mas os próprios usuários tomam conta da horta. Eles vem, plantam e colhem. Sem agrotóxicos. Hoje, tem banana e algumas hortaliças. A gente também plantou algumas mudas de árvores frutíferas. Agora tem que crescer e falta um espaço adequado para cozinhar. Já existe um projeto para construir uma cozinha comunitária no espaço.
O Centro Pop tem mais procura do que a quantidade que atende?
A gente abre todos os dias cadastros novos. Tem sempre gente nova chegando e muita gente não conhece o Centro Pop, demora um pouco pra conhecer. Outras pessoas preferem ficar na rua, em outros lugares.
Quais atividades são realizadas na unidade?
O Centro Pop é um espaço socioeducativo. Muitas vezes trazemos atividades vinculadas à alimentação, que é uma questão muito importante pra quem está em situação de rua.
Como é visto o trabalho realizado no Centro Pop?
Muitas vezes a unidade é acusada por pessoas que não compreendem o serviço de que ajudamos a manter as pessoas na rua por disponibilizar banho e comida. Mas a verdade é que sem isso a pessoa não consegue se organizar minimamente para sair da rua. Se a pessoa não tem um lugar adequado para comer e um lugar adequado para tomar banho, ela não consegue se cuidar e não consegue planejar uma maneira de superar as dificuldades que ela está enfrentando. Então é muito importante esta questão da alimentação para que as pessoas consigam planejar sua vida melhor. Na rua, você sempre está pensando no dia seguinte. Ter um espaço que oferta uma alimentação mínima já ajuda essas pessoas a pensarem além do dia seguinte.
Estagiário Nathan Victor, sob supervisão de Beatriz Evaristo
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Fonte: Ascom/Consea