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A cidade das tendas
Estes dias o Jornal Nacional mostrou ‘a cidade das tendas’ no Estado da Califórnia, EUA: um imenso acampamento de pessoas desempregadas, desalojadas de suas casas, vivendo debaixo de lonas, de barracas de praia ou de qualquer coisa que se pudesse chamar de casa. Só faltavam mesmo as lonas pretas para ser um típico acampamento de sem-terras brasileiros.
Luís Nassif publicou em seu blog uma mensagem - A Crise ao Vivo: “Nassif, aproveito o espaço para descrever um Estados Unidos como nunca vi. Há 20 anos vou para os EUA duas vezes ao ano, Califórnia e New Jersey. Voltei ontem aterrorizado. A crise que se comenta no Brasil é muito maior do que se imagina. Para se ter uma idéia, sempre fico no hotel Hyatt, com cerca de 400 quartos. Apenas 15 estavam ocupados. Nunca vi isso, esse hotel sempre teve muita ocupação. Normalmente minha reserva tinha de ser feita com 30 dias de antecedência para garantir a disponibilidade. Uma conversa com um funcionário do hotel deu a medida: 1/3 do pessoal já foi dispensado, e se esperam mais demissões a curto prazo. Passando num shopping, o cenário é desolador: vazio em pleno sábado à tarde; várias lojas fecharam. Conversando com as pessoas em geral, é latente a sensação de desânimo e de falta de esperança. E só se fala nisso, é deprimente. Voltei pra o Brasil com a sensação que aqui a crise está sendo uma marolinha mesmo. Oxalá, fique assim... Viva a marolinha!” Assinado: Doug.
Sucedem-se análises na reunião do G20, com presença do presidente Lula. Relatório de instituto independente de assessoria do governo britânico separa ‘prosperidade’ de ‘crescimento’, pedindo aos governos um sistema econômico sustentável que não se apóie em um consumo sempre crescente.
Malow Brown, principal negociador britânico para a cúpula do G20, diz: “Veremos após a crise uma recalibrada no estilo de vida, toda uma nova visão de futuro de um mundo menos conduzido pelo consumismo, talvez com o acréscimo de um mundo no qual o poder tenha algo mais bem distribuído”.
Segundo Pascal Lamy, diretor geral da Organização Mundial do Comércio, ‘o modelo de capitalismo que conhecemos nos últimos 50 anos não se sustenta. A questão fundamental é saber se há que readaptar, arrumar ou reformar o capitalismo ou se é preciso ir além, ser mais profundo nas mudanças e ir mais fundo nos retoques”.
O presidente Lula escreveu em artigo publicado no Le Monde: “É chegada a hora da política e de restabelecer o papel do Estado. Mais que uma grave crise econômica, estamos diante de uma crise de civilização. Ela exigirá novos paradigmas, novos padrões de consumo e novas formas de organização da produção. Precisamos de uma sociedade onde homens e mulheres sejam sujeitos de sua história e não vítimas da irracionalidade que imperou nos últimos anos”.
Os sem-terra e os sem-teto americanos levam a refletir sobre o tipo de desenvolvimento legado pelo neoliberalismo e sobre a estrutura da sociedade capitalista. Não dá mais para fugir da discussão de um novo modelo, com outros parâmetros, organização e valores. Ou como muitos de nós vimos dizendo faz tempo: está na hora da construção coletiva ‘de um outro mundo possível’
Selvino Heck é Assessor Especial do Gabinete do Presidente da República