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Mundo não pode ver água como garantida, afirma chefe da ONU ao lançar década global de ação
As Nações Unidas lançaram nesta quinta-feira (22) a Década Internacional para a Ação: Água para o Desenvolvimento Sustentável (2018-2028). O objetivo é promover novas parcerias, melhorar a cooperação e fortalecer a capacidade de implementar a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. O 22 de março é marcado em todo o mundo como o Dia Mundial da Água.
As Nações Unidas lançaram nesta quinta-feira (22) uma década de ação pela água – a Década Internacional para a Ação: Água para o Desenvolvimento Sustentável (2018-2028). O objetivo é promover novas parcerias, melhorar a cooperação e fortalecer a capacidade de implementar a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.
Mais diretamente ligados ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 6, a água segura e o saneamento adequado são indispensáveis para ecossistemas saudáveis, a redução da pobreza e o alcance do crescimento inclusivo, do bem-estar social e de meios de subsistência sustentáveis – as metas para muitos dos 17 Objetivos.
No entanto, demandas crescentes, má gestão e mudanças climáticas aumentaram o estresse hídrico e a escassez de água passou a ser um grande problema em muitas partes do mundo.
Além disso, mais de 2 bilhões de pessoas em todo o mundo não têm acesso a água potável e mais de 4,5 bilhões a serviços de saneamento adequados, alertou o secretário-geral da ONU, António Guterres.
“Até 2050, pelo menos uma em cada quatro pessoas viverá em um país onde a falta de água potável será crônica ou recorrente”, disse ele, durante o lançamento da Década Internacional para a Ação: Água para o Desenvolvimento Sustentável, que tem início em 2018 e segue até 2028.
“Simplesmente, a água é uma questão de vida ou morte. Nossos corpos, […] nossas cidades, nossas indústrias e nossa agricultura, tudo depende disso.”
Enfatizando que a água não pode ser tomada como garantida, o chefe da ONU disse que, embora existam soluções e tecnologias para melhorar a gestão da água, elas geralmente não são acessíveis a todos. Em muitos casos, acabam perpetrando desigualdade dentro e entre países.
“Tal como acontece com a maioria dos desafios de desenvolvimento, as mulheres e meninas sofrem desproporcionalmente. Por exemplo, mulheres e meninas em países de baixa renda gastam cerca de 40 bilhões de horas por ano coletando água”, enfatizou.
Enfrentar estes e outros desafios requer uma abordagem abrangente ao abastecimento de água, saneamento, gestão e redução do risco de desastres, disse o chefe da ONU, destacando que o alinhamento dos programas e projetos de água e saneamento com a Agenda 2030 também será vital.
Também é crucial a vontade política de fortalecer a cooperação e as parcerias, acrescentou.
‘Duas realidades’
Para o vice-presidente da Assembleia Geral da ONU, Mahmoud Saikal, enquanto muitos no mundo têm água potável e instalações de saneamento adequadas, bilhões de pessoas no mesmo planeta não possuem um banheiro básico e são forçados a beber água que pode deixá-las doentes.
“Esta é a realidade que todos nós temos que enfrentar. Não é bonito. Mas não deve ser uma surpresa. Sabemos disso há algum tempo”, disse ele.
“Felizmente, ainda temos tempo suficiente para fazer algo a respeito”, acrescentou Saikal, pedindo uma ação de todos para capitalizar as oportunidades oferecidas pela Década Internacional.
O lançamento da Década coincide com o Dia Mundial da Água, 22 de março, que busca chamar a atenção para a importância e os desafios da disponibilidade de água doce.
Comemorado este ano com o tema “Natureza pela Água”, o Dia insta as pessoas a explorar soluções baseadas na natureza para problemas contemporâneos da água.
Algumas delas podem incluir o plantio de árvores e o aumento da cobertura florestal, reconectando os rios às várzeas e restaurando as zonas úmidas para reequilibrar o ciclo da água.
Saiba mais sobre a Década Internacional: www.wateractiondecade.org.
‘Uma das questões do século’, diz UNESCO
A questão dos recursos de água potável é uma das mais importantes do nosso século. Suas implicações são múltiplas: humanitárias, ecológicas e geopolíticas. A afirmação é da diretora-geral da UNESCO, Audrey Azoulay, em mensagem especial para o Dia Mundial da Água (22).
Uma das respostas possíveis certamente pode ser encontrada nas chamadas “soluções baseadas na natureza”, acrescentou Azoulay: soluções que são inspiradas pelo ciclo natural da água e que estimulam a proteção e a restauração da biosfera.
Com o objetivo de destacar o potencial muito promissor desse tipo de solução sustentável, este ano, no Dia Mundial da Água, as Nações Unidas terão como foco o tema “Natureza pela água”.
A extensão dos desafios diante de nós pode ser ilustrada com alguns dados, lembrou a UNESCO, expostos no mais recente Relatório das Nações Unidas sobre Desenvolvimento dos Recursos Hídricos.
Azoulay lembrou que 3,6 bilhões de pessoas em todo o mundo – aproximadamente metade da população mundial – vivem em áreas com potencial escassez de água durante ao menos um mês por ano. Esse número pode aumentar para mais de 5 bilhões em 2050.
Durante o mesmo período, a demanda mundial por água, estimada atualmente em torno de 4,6 mil km3 por ano, pode alcançar 5,5 mil km3 ou 6 mil km3 por ano. Com o volume de 4,6 mil km3 por ano, o atual uso mundial de água doce já está perto do limite máximo de sustentabilidade, e esse equilíbrio frágil na verdade esconde grandes disparidades locais e regionais.
Um exemplo alarmante é o da Cidade do Cabo, África do Sul, que se prepara para se tornar a primeira grande cidade do mundo a ficar sem água potável, lembrou a chefe da UNESCO. “Dia zero” é o nome dado ao dia 12 de abril de 2018, quando se estima que as reservas hídricas da Cidade do Cabo atingirão apenas 13% do seu nível normal.
“As razões dessa escassez mundial são bem conhecidas: os recursos de água doce estão continuamente sob a pressão combinada do crescimento populacional, da mudança climática, do aumento exponencial do consumo e da expansão de estilos de vida que desperdiçam recursos”, disse ela.
“Um dado ilustra esse desperdício: 80% das águas residuais retornam para os ecossistemas sem serem tratados. Esses processos estão levando à degradação dos ecossistemas, o que acentua ainda mais os desequilíbrios ecológicos e a escassez hídrica.”
“Portanto, é urgente que sejam encontradas soluções para proteger o capital natural da Terra. Devem ser promovidas soluções que protejam, administrem e restaurem os ecossistemas naturais e artificiais, e que respondam aos desafios humanos e ecológicos de uma forma efetiva e sustentável, melhorando o bem-estar das pessoas e preservando a biodiversidade. O planejamento de novas florestas, a reconexão de rios a planícies de inundação e a restauração de zonas úmidas são soluções que, entre outros aspectos, irão abordar os desafios contemporâneos da gestão hídrica, em especial com vistas a desenvolver uma agricultura sustentável e construir as cidades do futuro”, disse Azoulay.
Lembrando o lançamento da Década Internacional de Ação “Água para o Desenvolvimento Sustentável”, a UNESCO reafirmou seu compromisso de apoiar os governos em sua transição rumo a economias verdes e circulares, bem como em seus esforços para implementar políticas hídricas mais bem integradas.
“Todos esses esforços devem contribuir para o alcance da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, na qual a questão essencial da água é tratada em conjunto com outras questões igualmente importantes: erradicação da pobreza, assistência médica, crescimento econômico, construção de cidades sustentáveis, desenvolvimento de padrões de consumo e produção responsáveis e, por fim, a paz”, concluiu a chefe da UNESCO.